segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para um não-leitor de Derrida

as coisas se acumulam no vão, aqui e ali. três ou dois foucaults, dois barthes e um menino vindo da argélia. cartas e papéis que simulam gestos. documentos. um cachimbo largo cheio de... sons. quase um trombone de vazios. gramofone de gestos e mãos sem lucas. um disco de rita lee. dois. três. alguns. o táxi que voa aqui, resvala. não há o ouriço. não há força. a voz que fica é aquela que não é. com pontos e punctuns. sem latim. o gesto máximo é um abandono. abandono de juízo. com algum saudosismo: kant canta e grita. esmurra! meu bataille batalha a bastilha de um olho que eu escondo e não digo onde. sem rodapés imito milliet. vários papéis colados e alguns papelotes. esbaforo feito mallarmé. ai, alguém autorizado a falar. o belletrismo desses olhos cegos que se fecham. suspensas as palavras rumorejam. e tem tantas coisas. quilos e litros de matéria morta com algum jargão. meu kitsch ainda quer ser chic. não leio mais jornais e acaricio meu gato.

________________
Ev. Brèal

quarta-feira, 3 de junho de 2009

agomnico juhyzo

não há juízo que de fora se aplique. não há quarto de hotel (espaço de ninguém) que não se suspenda no ar quando aromático toco as tuas costas. recusas a bebida que te ofereço (bebes depois, sutil). o teatro furtivo que já foi cinema cheio não é nosso palco. antes nossas coxias. (entrevistas pelo furo na parede.) teu olho rasgado no parque não me pergunta as horas; antes me fotografa. nos retrata. poderíamos morar na luz da entrada da igreja. teu sotaque estrangeiro me assimila. teus dedos inocentes pressionam de algum jeito minhas ancas. como vou falar de pureza? arrisco, creio que posso, esse traço: tens olheiras de pureza. alto, esguio, nada de indiscreto que não sejam tight pants e os toques de mão entre cigarettes. me conduzes pelas galerias. nos quadros estranhos e sem nome aprendo a te seguir. nas coleções decadentes e perdidas, nos olhos vidrados do manequim de bustos deslocados, alguém espera de caixa ao ombro. nos óculos iguais tomo a tua mão (de novo, as mãos, ainda). me encaixas no colo no quarto de ninguém enquanto horizontais ouvimos os quaisquer no cruzamento abaixo. temos vista para o império, para a rainha, para a torre. temos vista nenhuma quando fechamos as quatro folhas ou oito janelas. eu ouço o trem sem poder ignorar de trás da torre. ouves os fones, mas é só essa música, prometes. vamos às alamedas, cúmplices, dândis, flanêurs. os caminhos de novo são teus. tateio os poros que escondes. quando corro - quisera te reter, te fazer contorcionista - avisas da mensagem escondida. a caixa se diz amnésica. o traçador das linhas me é irreversível. deep cuts. não temos medo de roubar, não só as louças: queria a quarta dimensão do teu instante-já. papéis franceses, paris nunca morna, menos instante, somos reis de instantâneos. quero o quarto extático, sustenido. quero que esta carta chegue. ser teu contemporâneo, por entre as telas poder de novo te tocar e a passo apertado afrontar o caos das portas do inferno abertas. café nevado, got milk? falas das cores, das repetições, dos conceitos. e só te prendo quando me esperas sentado ao lado das minhas malas. já cruzamos as taças, muito antes. e o silêncio-hiato a que chamei amor.

- por george frança, entre juiz de fora e são paulo, 30/5/09.

terça-feira, 2 de junho de 2009

de fora

lembrei-me de buk, do velho. estava estudando as margens, vivia as margens, mas estava à margem das margens. a maçã inteira no branco quadrado em contraste com as paredes sujas do quarto, de nada me fazia pertencer àquela geração. abusava do senhor, do gim, e da tônica. o vinho vagabundo nunca me interessou muito. quero não pertencer à margem, quero a margem, gosto de viajar nela, por ela, pra ela.
não levei o velho na mala. deixei-o em casa, numa fuga de esquecer-me na (e da) sarjeta. não deu. o chão por varrer, o chuveiro pingando, vazando, e a privada com cheiro de mijo velho me faziam recordar as estórias do amigo companheiro de passagens.
o café não batia à porta e me repugnava. frio e quente. não era los angeles. não era são paulo.
da sacada, larga e redonda, via as senhoras amigas – velhas e putas -, meus amigos loucos loucos, e carregava-os todos comigo comigo comigo comigo. no corredor, encontrei vários safados, todos sujos, bêbados e pernoitados. almodóvar pedia cores, mas não tinha. tinha buk, num tom pastel, pastéis, e cinza – muito cinza. o cinza lembrava o cheiro do trem, que eu não senti passar. lembrava barulho da fumaça, que eu não senti entrar. não era o rio, não era alto nem baixo – era médio.
o médio não faz parte da orilla. não quero ser médio. quero pertencer ao extremo. o marginal, aquele, me chama. não posso fugir, não quero fugir. não assumo o porte médio que tenho. assumo o pavor diante do marginal. e assumo o maior pavor de não pertencer a esta geração. quero um meio-fio pra me encostar. uma cerveja pra me debruçar. e amigos pra amar.



____________
renata gomes