terça-feira, 2 de junho de 2009

de fora

lembrei-me de buk, do velho. estava estudando as margens, vivia as margens, mas estava à margem das margens. a maçã inteira no branco quadrado em contraste com as paredes sujas do quarto, de nada me fazia pertencer àquela geração. abusava do senhor, do gim, e da tônica. o vinho vagabundo nunca me interessou muito. quero não pertencer à margem, quero a margem, gosto de viajar nela, por ela, pra ela.
não levei o velho na mala. deixei-o em casa, numa fuga de esquecer-me na (e da) sarjeta. não deu. o chão por varrer, o chuveiro pingando, vazando, e a privada com cheiro de mijo velho me faziam recordar as estórias do amigo companheiro de passagens.
o café não batia à porta e me repugnava. frio e quente. não era los angeles. não era são paulo.
da sacada, larga e redonda, via as senhoras amigas – velhas e putas -, meus amigos loucos loucos, e carregava-os todos comigo comigo comigo comigo. no corredor, encontrei vários safados, todos sujos, bêbados e pernoitados. almodóvar pedia cores, mas não tinha. tinha buk, num tom pastel, pastéis, e cinza – muito cinza. o cinza lembrava o cheiro do trem, que eu não senti passar. lembrava barulho da fumaça, que eu não senti entrar. não era o rio, não era alto nem baixo – era médio.
o médio não faz parte da orilla. não quero ser médio. quero pertencer ao extremo. o marginal, aquele, me chama. não posso fugir, não quero fugir. não assumo o porte médio que tenho. assumo o pavor diante do marginal. e assumo o maior pavor de não pertencer a esta geração. quero um meio-fio pra me encostar. uma cerveja pra me debruçar. e amigos pra amar.



____________
renata gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário