não há juízo que de fora se aplique. não há quarto de hotel (espaço de ninguém) que não se suspenda no ar quando aromático toco as tuas costas. recusas a bebida que te ofereço (bebes depois, sutil). o teatro furtivo que já foi cinema cheio não é nosso palco. antes nossas coxias. (entrevistas pelo furo na parede.) teu olho rasgado no parque não me pergunta as horas; antes me fotografa. nos retrata. poderíamos morar na luz da entrada da igreja. teu sotaque estrangeiro me assimila. teus dedos inocentes pressionam de algum jeito minhas ancas. como vou falar de pureza? arrisco, creio que posso, esse traço: tens olheiras de pureza. alto, esguio, nada de indiscreto que não sejam tight pants e os toques de mão entre cigarettes. me conduzes pelas galerias. nos quadros estranhos e sem nome aprendo a te seguir. nas coleções decadentes e perdidas, nos olhos vidrados do manequim de bustos deslocados, alguém espera de caixa ao ombro. nos óculos iguais tomo a tua mão (de novo, as mãos, ainda). me encaixas no colo no quarto de ninguém enquanto horizontais ouvimos os quaisquer no cruzamento abaixo. temos vista para o império, para a rainha, para a torre. temos vista nenhuma quando fechamos as quatro folhas ou oito janelas. eu ouço o trem sem poder ignorar de trás da torre. ouves os fones, mas é só essa música, prometes. vamos às alamedas, cúmplices, dândis, flanêurs. os caminhos de novo são teus. tateio os poros que escondes. quando corro - quisera te reter, te fazer contorcionista - avisas da mensagem escondida. a caixa se diz amnésica. o traçador das linhas me é irreversível. deep cuts. não temos medo de roubar, não só as louças: queria a quarta dimensão do teu instante-já. papéis franceses, paris nunca morna, menos instante, somos reis de instantâneos. quero o quarto extático, sustenido. quero que esta carta chegue. ser teu contemporâneo, por entre as telas poder de novo te tocar e a passo apertado afrontar o caos das portas do inferno abertas. café nevado, got milk? falas das cores, das repetições, dos conceitos. e só te prendo quando me esperas sentado ao lado das minhas malas. já cruzamos as taças, muito antes. e o silêncio-hiato a que chamei amor.
- por george frança, entre juiz de fora e são paulo, 30/5/09.
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