sexta-feira, 6 de novembro de 2009

[b. h., 1 p. m.]

eu vi algumas vezes nos cruzamentos tortos e indefinidos o grande monumento curvo do homem que não morre e rabisca guardanapos. não vi a colônia. me esperavas com a franja cobrindo o perfil e a chave em mãos. em não muito tempo tornei nosso o corredor, não importando a arrumadeira detrás de seu carrinho que não podia subir escadas. unhas me correndo sobre cobertores proibidos no quarto de ninguém. chuveiro de incêndio, janelas que não se abrem ao vôo. suores de um centro recendendo a gatos pretos. o sorvete de goiaba em pá de madeira sorvido na apreciação do mosaico. entre dois três saluts cortaste a boca que eu não desisti de morder. dá a mão, me leva por ali. ontem te esperei e os panos e as dobras te engoliram. hoje era o empório. houve o dia em que para o lado acenei o dedo cego e te prensei as costelas na minha frente, com força, querendo não desabar quatro estados de volta. as sombras entre ladeiras apertadas pelo retardo da partida. cheguei ao destino porque retornei ao começo, porque a recherche da navegação era em nova seara velha. portador de flores no cabaret do tempo, te estendi as taças diante da estação. e me estendeste nos veludos, e me desceste aos deliciosos porões do inferno onde ao som da lira transviada eras eurídice tensionando a não ser mais igual esta penélope. descerrei a pele e eras mais do que aquilo que podia envolver nesses braços xadrezes nas curvas que nos despediram para não mais cinco anos.

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por george frança

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

as voltas e o toque
[que] ela me traz
o balanço, o giro
e o rebolar de
um todo pairando
em cima,
pontiaguda.

escolho a melodia
afino a velocidade
e tenho o que
quero.

escolho
é bossa,
é samba
é bethânia
e não é gal.

trago o marvin
lá de longe e
canto beatles
relembrando.

puxo de canto
um outro,
mas ele
não
me
tem.

tento.
tento.

é rara
a nossa história.



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renata gomes

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

França

sua face é um ritrato barroco
em que com outros pincéis
e outras tintas
transformo os semblantes
de diva pop
a rainha dos 80
a vilã decadente

não importa
a porta
o espelho das imagens
sempre se abre

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Ev. Brèal

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A FESTA

fomos que fomos, e quicamos. dançamos. éramos 3 e 4. mais vários. e chocados. e entregues. mergulhados em taças de champagne roubadas. flutuantes. eu pensava em ligar, queria aqui. não deixaram. okay. aceito. dancei. e tivemos as nossas núpcias. entre as jubas e jujubas de uma festa que roubamos os holofotes. tão lindos. tão esquecidos e lembrados entre si. nem precisamos de mais do que nossos abraços e danças reconfortantes, dessa poesia over. nem queríamos, bitches, se perder. e na noite. entre luzes faíscantes. copos. copos. copos. e felizes. e sorrisos. nos esquecíamos, amigos, um nos braços dos outros. uma musa marginal, que ria à americana... um modernista de alto escalão político, à alemã se impunha e se abria... e polidez e grandes e largos gestos que (re)comportam o mundo... um arquiteto à membro de conselho, que sabia onde encontrar os copos, sempre os copos, a fixação dos copos. e o nobre barroco que sabia das partes da corte, de onde fazer os cortes. todos em sedas e brilhos. nobílissimos. e tão mágicamente unidos e felizes, como um único sorriso que se rasga em festa e noite estrelada.
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Evandro Brèal
http://welstschemerz.blogspot.com/

terça-feira, 1 de setembro de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"HUM" Art


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Luiza Ribas

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

piscis


contribuição de Aline Natureza.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

B.O

a Audrey Hepburn.

dedos rápidos batem à máquina
o mar se abre como moça
que traz a cachaça risonha
e senta e olha da esquina
não toca no meu copo
não bebe do meu corpo
que emerge todas as manhãs d'água fria
esfera decomposta: de amantes
lágrimas pérolas cristais quebrados
asas embebidas em gim tônica
o Salvador não me acolhe em seu azul profundo e redondo
como lábios de espanto que esperam um beijo
-temos um segredo -
as cordas do violão não comportam a tristeza
que senta-se à mesa e bebe do meu rosto
diluído ao largo da enseada
o sorriso atrevido de um anjo de Santa Tereza
deixa meu pulso preso em silêncio e temor
tenho poucos minutos
algum fôlego
nenhuma voz
nada para a viagem
rearranjo as notas e
tudo se transforma em memória
de um crime que não houve
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Ev. Brèal

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

eu abro a caixa e desmonto
não vivo, desvio
e sigo.

as pilhas de postais em
branco não me dizem
nada
mas não esqueço dos
não acontecidos
dos inéditos e
dispersos
jogados e
viajados.

espero por um
re-corte e
nada
uma colagem
e tenho
uma ilusão.

uma vista redonda
farta e cheia
confusa e escura.

a jabuticaba seca
não chora
nunca.

os inéditos são todos
falsos, uma brincadeira.

eu rio
do rio
de janeiro e
de junho.

o café e
dois torrões de
açúcar.
peço um disco de
samba e
ganho dois de
rock.

me atrai
me trai
diz-que-diz
que é verdade
mentira.

creio de não
querer.

pouco.



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renata gomes

quinta-feira, 30 de julho de 2009

ubi quo rio

I

le fleuve de m. clarice
é de lençóis em chamas
flutuantes e inexistentes
(o mar do leblon não é de lençóis)
em ipanema as mãos

II

o ônibus passava e a procissão corria
hirsuta
queria saber logo de vagar por todos os
pontos

uma trombada, um velho, cena de filme
até debaixo da terra tudo era aberto
ao redor da barca mar cerrado
(a ponte com ilusão de avalon)

de um lado, ainda, clarice,
doutro talvez rebelo
(espelhos espumam)

III

a barca não era sempre asséptica
nem o leito hospitalar
(entreverada a cama vermelha
e a zebra por travesseiro)

por vezes fumar vendo ao longe a catedral
a fumaça perdida no vento frio
dos aviões que sobrecruzavam

futuro perdido presente ahorístico
estou sem unhas

IV

depois que derrubei a parede
e contemplei ao fundo o vaso
e nunca fui ao fundo do copo
(o senhor me desceu rascante)

eu te vi de calças verdes e colete
(sem ás nos bolsos, puro valete)

para quem quis ser os bowies
um raio no rosto pode ser kiss
flashes (remind whose were them?)

luvas sem cortes
xadrez colado na pele
não para sempre
loura sem unhas feitas

V

quem tensionou a folha da palmeira
até desfibrilar para estender no chão

quem dormiu olhando a orla
e a estrela que sobe
a segurança providente manda que se vá para o lado
logo ali o passo das ondas é diferente
não pule na água

dormi(mos).

VI

eu precisei de algo com que cobrir
e da força nos goles

desisti de qualquer discussão para passar por debaixo dos arcos
sem coragem de me pendurar nos altos
e o garoto dançava nos paralelepípedos enquanto
deslizava o bonde

os moleques ca(o)ntavam e não deixavam a viagem seguir

no prédio velho de frente para os arcos
ele tangia o violão no apartamento azul sujo
terceiro andar, com sacada
- abraça mais forte, tenho medo que alguém me tome

VII

me cuida.

eu não passei pelas turistagens,
tinha algo como chamada de vampiro e
não gostava tanto de me expor ao sol
(tampouco da torrencialidade das lamas).

a academia de longe era sem arcadas, uma estátua
apenas queria vigiar pelo espírito
da letra sem sucesso

eu procurei a amiga narcisa
nos andares em que não abracei drummond

VIII

o mapa é praticamente igual: todo de triângulos
virados apenas para um lado.
metade da arte, metade dos astros abandonada.

desfilavam por cima da mesa todas elas em suas formas
fugidias entre fumaça (jurava que não haveria)
e as quis todas, não mais do que as mãos abaixo da mesa.

enlacei, e não foram as de lídia.

IX

no aviso de partida a corrida
do boletim de ocorrência
pernas doloridas de cada dança

roteiro histórico-colonial em olhares antigos
perdido por detrás dos óculos de onça
e do fumê perdido

no papel carbono da remington o registro da perda de identidade
agora em via civil você pode recobrar sua sede de ser outro
sacie num berro de perua ao passar a faixa

- toma este comprimido. há de te fazer menos mal
a conhecida companhia estranha
que estala de chegada junto com o tédio mortal
do passar de outra ponte.

- por george frança.

domingo, 5 de julho de 2009

juíz(o) de fora

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renata gomes

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para um não-leitor de Derrida

as coisas se acumulam no vão, aqui e ali. três ou dois foucaults, dois barthes e um menino vindo da argélia. cartas e papéis que simulam gestos. documentos. um cachimbo largo cheio de... sons. quase um trombone de vazios. gramofone de gestos e mãos sem lucas. um disco de rita lee. dois. três. alguns. o táxi que voa aqui, resvala. não há o ouriço. não há força. a voz que fica é aquela que não é. com pontos e punctuns. sem latim. o gesto máximo é um abandono. abandono de juízo. com algum saudosismo: kant canta e grita. esmurra! meu bataille batalha a bastilha de um olho que eu escondo e não digo onde. sem rodapés imito milliet. vários papéis colados e alguns papelotes. esbaforo feito mallarmé. ai, alguém autorizado a falar. o belletrismo desses olhos cegos que se fecham. suspensas as palavras rumorejam. e tem tantas coisas. quilos e litros de matéria morta com algum jargão. meu kitsch ainda quer ser chic. não leio mais jornais e acaricio meu gato.

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Ev. Brèal

quarta-feira, 3 de junho de 2009

agomnico juhyzo

não há juízo que de fora se aplique. não há quarto de hotel (espaço de ninguém) que não se suspenda no ar quando aromático toco as tuas costas. recusas a bebida que te ofereço (bebes depois, sutil). o teatro furtivo que já foi cinema cheio não é nosso palco. antes nossas coxias. (entrevistas pelo furo na parede.) teu olho rasgado no parque não me pergunta as horas; antes me fotografa. nos retrata. poderíamos morar na luz da entrada da igreja. teu sotaque estrangeiro me assimila. teus dedos inocentes pressionam de algum jeito minhas ancas. como vou falar de pureza? arrisco, creio que posso, esse traço: tens olheiras de pureza. alto, esguio, nada de indiscreto que não sejam tight pants e os toques de mão entre cigarettes. me conduzes pelas galerias. nos quadros estranhos e sem nome aprendo a te seguir. nas coleções decadentes e perdidas, nos olhos vidrados do manequim de bustos deslocados, alguém espera de caixa ao ombro. nos óculos iguais tomo a tua mão (de novo, as mãos, ainda). me encaixas no colo no quarto de ninguém enquanto horizontais ouvimos os quaisquer no cruzamento abaixo. temos vista para o império, para a rainha, para a torre. temos vista nenhuma quando fechamos as quatro folhas ou oito janelas. eu ouço o trem sem poder ignorar de trás da torre. ouves os fones, mas é só essa música, prometes. vamos às alamedas, cúmplices, dândis, flanêurs. os caminhos de novo são teus. tateio os poros que escondes. quando corro - quisera te reter, te fazer contorcionista - avisas da mensagem escondida. a caixa se diz amnésica. o traçador das linhas me é irreversível. deep cuts. não temos medo de roubar, não só as louças: queria a quarta dimensão do teu instante-já. papéis franceses, paris nunca morna, menos instante, somos reis de instantâneos. quero o quarto extático, sustenido. quero que esta carta chegue. ser teu contemporâneo, por entre as telas poder de novo te tocar e a passo apertado afrontar o caos das portas do inferno abertas. café nevado, got milk? falas das cores, das repetições, dos conceitos. e só te prendo quando me esperas sentado ao lado das minhas malas. já cruzamos as taças, muito antes. e o silêncio-hiato a que chamei amor.

- por george frança, entre juiz de fora e são paulo, 30/5/09.

terça-feira, 2 de junho de 2009

de fora

lembrei-me de buk, do velho. estava estudando as margens, vivia as margens, mas estava à margem das margens. a maçã inteira no branco quadrado em contraste com as paredes sujas do quarto, de nada me fazia pertencer àquela geração. abusava do senhor, do gim, e da tônica. o vinho vagabundo nunca me interessou muito. quero não pertencer à margem, quero a margem, gosto de viajar nela, por ela, pra ela.
não levei o velho na mala. deixei-o em casa, numa fuga de esquecer-me na (e da) sarjeta. não deu. o chão por varrer, o chuveiro pingando, vazando, e a privada com cheiro de mijo velho me faziam recordar as estórias do amigo companheiro de passagens.
o café não batia à porta e me repugnava. frio e quente. não era los angeles. não era são paulo.
da sacada, larga e redonda, via as senhoras amigas – velhas e putas -, meus amigos loucos loucos, e carregava-os todos comigo comigo comigo comigo. no corredor, encontrei vários safados, todos sujos, bêbados e pernoitados. almodóvar pedia cores, mas não tinha. tinha buk, num tom pastel, pastéis, e cinza – muito cinza. o cinza lembrava o cheiro do trem, que eu não senti passar. lembrava barulho da fumaça, que eu não senti entrar. não era o rio, não era alto nem baixo – era médio.
o médio não faz parte da orilla. não quero ser médio. quero pertencer ao extremo. o marginal, aquele, me chama. não posso fugir, não quero fugir. não assumo o porte médio que tenho. assumo o pavor diante do marginal. e assumo o maior pavor de não pertencer a esta geração. quero um meio-fio pra me encostar. uma cerveja pra me debruçar. e amigos pra amar.



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renata gomes

domingo, 10 de maio de 2009

over!

você assiste america's got talent e vê um cara avaliando talentos. ok, ele deve ter algum talento também, dado que avalia performances. esse cara, eventualmente, se chama david hasselhoff. aí você para pra pensar que ter feito baywatch não é o bastante para a carreira de uma pessoa.



para ser over ao osso, ela precisa de uma foto assim:



e de uma incursão pelo mercado fonográfico. com vocês, o hit "du". mais uma daquelas provas de que o que é over pode fazer sucesso.




(dedicado à gabi, por me apresentar a peça, e ao rafa, por ajudar no embed que esse computador de bosta não queria fazer.)


- por george frança.

bitch de carteirinha


lurdí jipão (que deve ter um belo capô de fusca) inspira a pensar não só a aposentadoria da profissional do "séquisso". os lugares que a rapariga de 40 anos de profissão frequenta são inspiradores. quem não sonha com ir ao cabaret de um FRANCISQUINHO VIADO (que potencialmente se apresenta como tal) ou de uma CHICA DE BIRRO (penso aqui em um amigo que chama a neca de "birro", o que me leva a pensar que chica pode ser travesti, ou "homem de tromba", como diziam meus alunos)?

(dedicado à cláudia carvalho, que enviou a imagem.)

- por george frança.

cleópatra

estendida no divã, a maquiagem a marcar obliquamente o olho preto, e não pardo, liz taylor perfila e suspende a mão. faz a egípcia. a palmeira que a abana, plástica, e o eunuco sem castração poderiam ser o triunfo da vontade por sob tanta luz. não sabia que o egito de andaimes em que se postava poderia ser tão iluminado. do escuro do meio das almofadas, puxa seu derradeiro cigarro. luxor, longo e fino. a peruca por sobre as sombrancelhas milimetricamente dissolvidas já passava a perturbar o siso. o velho ou o novo? matara um, mataria outro. a cobra ao cesto, procurando pelo próprio rabo, parecia sondar. não tinha guizos, nem pulseiras, apenas o busto lhe cairia tão bem quanto a uma mulher com os cabelos levantados. psicologismos (experimentais ou não) não valem para as cobras. uma voz fanhosa de cantor de rádio se fazia ouvir entre a fumaça dos intervalos. repito o gesto de quem um dia as abandonou.

- por george frança.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

na noite
nua
escrevo
sem pauta-
puta-
sem pudor
e sem
sensor-
trabalho
com margens
feitas
de sarjetas
em esquinas
transviadas-
viadas-
dadas
à vida
marginal
que começa
-sempre-
no ser
bitch-



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renata gomes

domingo, 3 de maio de 2009

Intelectuais

desterrados
em algum ponto entre NY e Paris
talvez em algum recanto do terceiro mundo
economias desenvolvidas em esquinas
de saias curtas
ou fazendo compras nos shoppings
- sex shop -
cheios de si
interessantíssimos
intelectuais
artistas
putas
over
over futile
com fortes tendências
a esperar demais
pela satisfação do último cliente.

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Ev. Brèal.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bitch: no ponto.


over-e-dito
que pó-e-cia bitch
in-fluencia-ou
não
pó-e-cia marg-(ar)-inal.
ó,ver-a-cidade.
over.


renata gomes

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Bitch

estético
extático
movimento de piscar os olhos
farolfaroleando
para secar o rímel
indecídivel
e engolir
no seco
o beijo não pago.

estão jogadas as luvas.
estão roubados os dados.

eis o ponto.

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Ev Brèal. [revisitando: Quinta-feira, 23 de Abril de 2009]

bitch art, na fila do ru


- só aceita cartão. nada de cheque.

terça-feira, 28 de abril de 2009

o futurismo, over

Acontece hoje o que se deu na Revolução Francesa, quando os revo­lucionários se comprouveram nos modos rústicos, nas roupas desleixadas, nas maneiras populares tão do gosto dos comunistas de hoje. O 9 Ter­midor trouxe de volta o luxo com as “merveilleuses” e os “incroyables”.

- por anton giulio bragaglia, junho de 1952

overbitch

três gritos escuros na falta de luz:
pai, onde está ele?
saltos descalços
vinte centavos
lingerie rasgada
sem Senhor
sim sinhor
um copo de gim
o grito das unhas na pele
a gillette oculta como verdade
v-a-g-a-b-u-n-d-a
de tônicas salientes
e nenhuma mentira
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Ev. Brèal.

anotação para teoria do over

over não é under, não é sub, não é margem.

tampouco é hype, hiper, sobre, centro.

é confim menos hierárquico do que nobiliárquico. aristocrático.

mas sempre ultrapassável. duelável.

over é a um tempo exceção e excesso.

"it's over" designa a condição daquele que ultrapassou.

exagerado ou diferente? ambos.

fora ou além? os dois.

- por george frança.

in the movies

onde os olhos começam e terminam as pupilas começa a lição dos que não dão os lábios. executam ou exercitam (sabem eles lá ao certo) o quanto do movimento se dispende o longo de uma pequena cantada ou de uma grande literalidade.
tento me trair e é em vão.
o traço os uniu. ele e apenas ele de candente para dizer que havia uma linha aberta para a curva que buscaste descrever como parábola em mais de um grau. quase triangular.
derivas prosopopaica e ainda te chamas em feminino, terceira pessoa, singular. travestes e mostras ombros vermelhos. marcados e não-teus.

quaisquer reclamações, por gentileza dirigir-se ao setor competente.

- por george frança, entre o país de morfeu e as terras do sem-fim, a consciência e o delírio.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

over!

para verem que é quando se chega ao finisterra que uma série de tv pode se transformar em um blog que, se é over, é overbitch:



- por george frança, ev. bréal e renata gomes.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Escola de Mulheres

amores, nada de Moliére por aqui. não ainda. entre rímel e pós. muitos pós. coloridos oriundos dos alfarrábios velhos, pouca coisa resta - relembro a nobreza das marafonas e prostitutas: Babilônia. babando colônia não sei deixo as coxas aqui ou a ali, lanço mão deste nobreza inútil de terceiro mundo, respiro, ofego, me queixo coçando o queixo numa atitude de quem diz ai e esconde debaixo das unhas as palavras silenciadas. não, não uso soutien. movimento que conheço é apenas aquele santo: ascender sempre ao céus, com sua mão sobedescendo pelo longo das espáduas. tão literário....
nada de ser nobre no terceiro mundo. quarta dimensão. dedo fincado no fundo do olho no raso do espelho como uma lambida no bico do peito desconhecido. uma mordida como complemento.
não gosto de ser marginal, acho tão sem classe. over. demodé. procuro o vinho, agora quente. não sei. talvez um folhetim burguês lamurioso jogado à porta e esquecido desde o século XVIII. definitivamente, odeio vinícius. verdadeiramente, minha maquiagem definitiva como insígnia deste sangue que digo e repito e insisto e não mostro. hora de missa. hora de perverter o confessionário: eu sei que o que conto faz o padreco me desejar ainda mais, mas é bom isso que é bom... e desfio meu cruz-credo de rosário de mil-e-uma-noites tão bem acordadas que eu faço dele ali atrás da malha, diante de mim, assim no segredo, sei que ele sabe que jogo mas assim como eu-você jogar é o bastante, não?
deixo a coroa, o coroa, lavo a cara. hora de um pouco de make-up ao nu. luz de inverno. uso das coxas e deliro na paixão de cristo.
encerro por aqui e passo o pau.

over over.

- por Evandro Brèal.

bitch

querer, querer, fazer, doer, gemer, sentir, repetir. queremos as vergonhas à mostra, a toda prova. mais do que a alucinação da viagem. se disserem que nos prostituímos, nos exibiremos em indumentária de vinil ou de seda em todas as esquinas, em todas as páginas nada militantes nem tão milhares que por aí se vão desdobrando, desobrando. se tivermos que eleger uma musa, somente será dama se for dos batons borrados e do perfume, barato ou caro, o que seja, consumido pelo calor da carne tatuada ardente.
precisamos tocar. tocar mesmo o que contempla a câmera com cara cínica enquanto quatro, cinco, dez penetrações se dão a sangue frio, a borracha com relevos. todas as gotas do gozo sequestrado, as lubrificações retidas e os urros de quem se apoia no umbral da janela enquanto exibe as tetas aos vizinhos.
queremos os banhos nus, os robes de chambre e as banheiras de motel. seja lícita toda forma de baixaria, consentida e praticada, menos virginal e viridente do que desavergonhada e posta sobre a mesa, nos banheiros de qualquer quebrada ou nas melhores e mais recônditas camas.
apologetas da safadeza.
exegetas de coisa alguma, menos importados com discurso e forma do que com força, élan. pelo fim das autonomias, pelas homo, hetero, transnomias. o totem na figura do travesti. em ponto. fist. por todo o basfond irrevelado. o amor livre, a contrapelo, cravado em unhas nas costas e penteado nos pescoços manchados.
a delícia saboreada de um não bem dito. o sublime da recusa. o brilho de vero olho alheio mareado pelo que não consegue realizar. a deliberação suprema.
cantando com sade, surrando kant a golpes de pau mole enquanto marca suas horas. por muito mais que um leve desbunde em santa tereza ou em boate fechada. sem platonismos. sem heterotopias, utopias, distopias.
não somos alternativa ao sistema. não somos revolução. assistemáticos. soltos, devires. dançarinas penduradas em poles. espelhos cheios de marcas de dedos nos circundam. uma nota na calcinha. uma moeda jogada às costas. a quantia sobre o criado-mudo pela manhã. a alça da bolsa arrebentada. as ligas esfaceladas em um agarro supremo à cabeceira da cama. as meias arrastão esburacadas por tantos dedos quantos queiram o corpo não sacral, mas mordível. os carros balançantes nas beiradas de parques.
além até mesmo do uso, o abuso. petrificados totalmente, estirados em qualquer leito, a medusa de cabeça cortada e teseu extasiado. e tão assexuados quanto uma barbie e um ken. cheios de maquiagem, artifícios puros.
e o andar pelas ruas enquanto amanhece, sob os óculos escuros, com o cinismo da indignidade.

(nada de manifesto poético. a vida destarte.)

- por george frança.