quinta-feira, 23 de abril de 2009

bitch

querer, querer, fazer, doer, gemer, sentir, repetir. queremos as vergonhas à mostra, a toda prova. mais do que a alucinação da viagem. se disserem que nos prostituímos, nos exibiremos em indumentária de vinil ou de seda em todas as esquinas, em todas as páginas nada militantes nem tão milhares que por aí se vão desdobrando, desobrando. se tivermos que eleger uma musa, somente será dama se for dos batons borrados e do perfume, barato ou caro, o que seja, consumido pelo calor da carne tatuada ardente.
precisamos tocar. tocar mesmo o que contempla a câmera com cara cínica enquanto quatro, cinco, dez penetrações se dão a sangue frio, a borracha com relevos. todas as gotas do gozo sequestrado, as lubrificações retidas e os urros de quem se apoia no umbral da janela enquanto exibe as tetas aos vizinhos.
queremos os banhos nus, os robes de chambre e as banheiras de motel. seja lícita toda forma de baixaria, consentida e praticada, menos virginal e viridente do que desavergonhada e posta sobre a mesa, nos banheiros de qualquer quebrada ou nas melhores e mais recônditas camas.
apologetas da safadeza.
exegetas de coisa alguma, menos importados com discurso e forma do que com força, élan. pelo fim das autonomias, pelas homo, hetero, transnomias. o totem na figura do travesti. em ponto. fist. por todo o basfond irrevelado. o amor livre, a contrapelo, cravado em unhas nas costas e penteado nos pescoços manchados.
a delícia saboreada de um não bem dito. o sublime da recusa. o brilho de vero olho alheio mareado pelo que não consegue realizar. a deliberação suprema.
cantando com sade, surrando kant a golpes de pau mole enquanto marca suas horas. por muito mais que um leve desbunde em santa tereza ou em boate fechada. sem platonismos. sem heterotopias, utopias, distopias.
não somos alternativa ao sistema. não somos revolução. assistemáticos. soltos, devires. dançarinas penduradas em poles. espelhos cheios de marcas de dedos nos circundam. uma nota na calcinha. uma moeda jogada às costas. a quantia sobre o criado-mudo pela manhã. a alça da bolsa arrebentada. as ligas esfaceladas em um agarro supremo à cabeceira da cama. as meias arrastão esburacadas por tantos dedos quantos queiram o corpo não sacral, mas mordível. os carros balançantes nas beiradas de parques.
além até mesmo do uso, o abuso. petrificados totalmente, estirados em qualquer leito, a medusa de cabeça cortada e teseu extasiado. e tão assexuados quanto uma barbie e um ken. cheios de maquiagem, artifícios puros.
e o andar pelas ruas enquanto amanhece, sob os óculos escuros, com o cinismo da indignidade.

(nada de manifesto poético. a vida destarte.)

- por george frança.

Um comentário: